Os fundos de pensão, que devem fechar o ano de 2016 com rentabilidade acima de suas metas atuariais, tendem a manter uma estratégia conservadora e de muita cautela na tomada de riscos em seus investimentos em 2017. As estimativas da Abrapp para este ano apontam uma rentabilidade média projetada em 18,23% para as carteiras das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, frente a uma meta atuarial de 14,49%. Esse resultado considera o cenário mais provável, ou seja, a expectativa de que o Ibovespa encerre o ano na marca dos 65 mil pontos, informou José Ribeiro Pena Neto, presidente da Abrapp, durante encontro de final de ano com a imprensa nesta terça-feira (6). Há também um cenário mais pessimista, no qual o Ibovespa ficaria em 58,5 mil pontos, caso em que a rentabilidade recuaria para 15,87% no ano, ainda acima da meta atuarial. Já num ambiente mais otimista, com a Bolsa batendo os 71,8 mil pontos, a rentabilidade projetada subiria para 20,59%.
O retorno dos investimentos no mês de agosto, mais recente dado do Consolidado Estatístico da Abrapp, ficou acima da taxa de juros padrão, com resultado de 1,07% contra 0,84% da TJP. A rentabilidade acumulada no ano de 2016 até agosto ficou em 12,19%, frente a uma TJP de 10,7% e o resultado acumulado de 2002 até agosto de 2016 aponta um retorno de 660,28%, contra uma necessidade atuarial de 527,34%. Os planos BDs representam 66,8% dos ativos dos fundos de pensão, seguidos pelos planos CVs, com 22,2% e CDs, com 11%. Um dos destaques foi o crescimento de quase 18% nos ativos dos planos instituídos, que atingiram R$ 5,27 bilhões em agosto.
Cautela na tomada de risco - “ Este tem sido um ano de recuperação para os investimentos dos fundos de pensão e nem mesmo a instabilidade política que tem afetado o desempenho da Bolsa no final de novembro e início de dezembro serão capazes de trazer um impacto negativo às EFPCs em relação a suas metas”, diz Pena Neto. A grande preocupação diz respeito ao ano de 2017, para o qual a Abrapp havia traçado expectativas mais animadoras e que podem ter sido afetadas por acontecimentos mais recentes. “O repertório de incertezas é muito grande e dificulta o otimismo, mas ainda esperamos um ano melhor”, afirma o dirigente.
Diante das incertezas, a perspectiva é de que os fundos de pensão continuem cautelosos e bastante seletivos em seu apetite a risco, ainda que haja sinais de maior interesse pelos investimentos em renda variável nas políticas desenhadas para o próximo ano. “As entidades certamente procurarão tomar um pouco mais de risco, mas ainda serão conservadoras uma vez que o nível de ganho proporcionado pelos títulos públicos segue elevado e não há motivo para ampliar muito o risco no atual cenário”, acredita Pena Neto.
A expectativa era de que a alocação em renda fixa começasse a perder terreno em meados de 2017, abrindo espaço para que os fundos de pensão voltassem a diversificar mais suas carteiras, mas as circunstâncias macroeconômicas inspiram maior cautela e as entidades redobraram seus cuidados em relação a investimentos na economia real. “O desempenho da economia reduziu o apetite por risco, mas havendo oportunidades interessantes, os fundos de pensão continuam atentos”, lembra Pena Neto. Ele critica a “demonização” dos investimentos em ativos reais, particularmente no caso dos FIPs, e observa que mesmo aqueles que seguiram critérios técnicos rigorosos, sem qualquer sinal de má gestão, acabaram perdendo por conta do cenário macroeconômico do país. “Entretanto, não é porque não deram certo no passado que devemos transformar esse tipo de alocação em pecado, os fundos de pensão precisam manter sua preocupação com oportunidades de investimento a longo prazo”.
O mercado de capitais, avalia Pena Neto, continua na mira dos fundos de pensão, incluindo aí as possíveis oportunidades representadas pelos IPOs que surgirem no próximo ano, mas essas decisões dependerão sempre de uma cuidadosa análise da relação risco/retorno. “As entidades tem que tomar um pouco mais de risco para que os ativos rendam acima do mínimo atuarial, até para compensar o aumento da longevidade, mas é natural que os fundos de pensão que não tiveram a melhor performance em renda variável fiquem com o pé atrás, enquanto os maiores devem ter maior apetite pelas oportunidades”.
Fomento em destaque - A Abrapp, que vem apresentando um plano estratégico de fomento do sistema de previdência complementar fechada, tem uma expectativa positiva em relação à aprovação de algumas medidas fundamentais em 2017. Até porque, como lembra Pena Neto, se não houver incentivo ao fomento, em breve os fundos de pensão mais maduros, que são pagadores de benefícios e não recebem mais contribuições, irão acabar. “Ao mesmo tempo, as fundações mais novas ainda não conseguem repor essa diferença, então é urgente que se tome medidas pensando na manutenção e crescimento do sistema”.
O principal passo, acredita o presidente, será transformar o Conselho Nacional da Previdência Complementar – CNPC – em um órgão mais estratégico e menos burocrático. “Ao lado da agenda operacional, será preciso ter uma agenda estratégica em 2017, um esforço que contemple pontos importantes de fomento”.
Reforma - Em relação à reforma da Previdência Social que acaba de ser anunciada pelo governo federal, a Abrapp considera essencial que se adotem medidas para buscar o equilíbrio e enfrentar o aumento da longevidade da população, como o aumento da idade mínima para aposentadoria, e defende a necessidade de um amplo programa de comunicação para divulgar essas medidas. Já o modelo sugerido pela Associação leva em conta que se reduza o teto de benefícios do INSS sem reduzir a contribuição compulsória pelos trabalhadores. “Desse modo, a diferença seria utilizada para um pilar de capitalização individual, cada pessoa teria uma conta capitalizada e gerida pelas entidades privadas de previdência”. ( Martha E. Corazza )