Juca Andrade, diretor Executivo de Produtos e Clientes da BM&FBOVESPA, destaca em entrevista ao jornalista Jorge Wahl pinceladas do novo cenário econômico que devagar vai se formando, a lenta volta dos fundos de pensão à renda variável - em 2016 as entidades destinaram à Bolsa R$ 10,1 bilhões a mais do que no ano anterior - os investimentos que ajudam a fortalecer o esforço produtivo do País e o muito que os mercados e a sociedade brasileira teriam a ganhar com o indispensável fomento da poupança previdenciária.
Diário dos Fundos de Pensão - Os economistas são unânimes em afirmar que, ainda que lentamente, estão sendo criadas as condições para uma retomada do investimento em ações pelos investidores institucionais, com destaque para os fundos de pensão. Além de engrossar os montantes negociados, quais os outros possíveis significados desse retorno da poupança previdenciária para o mercado bursátil e seu papel de um dos financiadores da atividade produtiva?
Juca Andrade - A situação econômica do País está mudando para melhor e o mercado de ações pode ser um dos grandes beneficiados, ganhando assim melhores condições de cumprir a sua missão de capitalizar as companhias de capital aberto e fomentar o crescimento. Dentro deste contexto, entendo que seria natural um redirecionamento dos investimentos para ativos com maior oportunidade de retorno. Um dos principais fatores que está se desenhando e que deve ter grande impacto na gestão de recursos previdenciários é a tendência de queda de taxa de juros, com a provável redução de juros reais. Neste contexto, o mercado de renda variável volta a ganhar espaço enquanto alternativa de investimento para os gestores de recursos de longo prazo, pois é um dos principais instrumentos para capturar os retornos de um possível crescimento econômico que pode estar sendo desenhado para os próximos anos.
Diário - Os fundos de pensão buscam um mercado de renda variável vivo e com liquidez, mas dependem também de um ambiente de Bolsa que atenda as suas características de investidores estáveis e de longo prazo em empresas social e ambientalmente responsáveis. Nesse sentido, o que a BM&FBOVESPA tem feito para tornar melhor essa ambiência?
Andrade - A Bolsa atua em várias frentes para o desenvolvimento do mercado de capitais, sejam elas de melhorar as condições institucionais e governança, de liquidez e de instrumentos e produtos disponíveis para seus clientes e participantes. Para tanto, temos um papel fundamental no estímulo às melhores práticas sociais, ambientais e de governança entre as empresas listadas.
Neste contexto, estamos promovendo uma revisão nos segmentos diferenciados de listagem da BM&FBOVESPA e para isto contamos com a ampla participação do mercado. Um dos pilares deste trabalho de aperfeiçoamento do regulamento é o alinhamento às melhores práticas adotadas internacionalmente e às exigências dos investidores nacionais e estrangeiros. Em outra vertente, oferecemos um espaço contínuo de promoção e discussão da sustentabilidade para empresas listadas, com encontros presenciais e uma rede para intercâmbio de publicações. Desenvolvemos, por exemplo, o guia de sustentabilidade “Novo Valor: Sustentabilidade nas Empresas. Como Começar, Quem Envolver e o Que Priorizar”. Em linha com essas iniciativas, a BM&FBOVESPA incorpora o conceito de sustentabilidade em seus produtos e serviços como, por exemplo, no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o ICO2 (Índice Carbono Eficiente), sendo guiada por uma Política de Sustentabilidade aprovada pelo Conselho de Administração.
Na frente de liquidez, que entendemos ser um fator chave para o sucesso de qualquer mercado de capitais desenvolvido como o nosso e também fator altamente importante para investidores de longo prazo conseguirem montar ou desmontar posições com o menor impacto possível em preços, temos promovido e divulgado nossos principais produtos e mercados, tanto para o público doméstico quanto internacional, e criado condições para estimular e incentivar a negociação dos produtos listados, seja por meio da atividade de formador de mercado, seja por meio de incentivos diversos que são criados de acordo com a necessidade de cada produto e seus respectivos participantes.
Por fim, na frente de produtos e novos instrumentos, temos atuado junto ao mercado para desenvolver tanto melhorias em nossos mercados e serviços quanto a criação de novos produtos. Essa atuação ocorre por meio das diversas câmaras consultivas que a bolsa administra e também por meio do relacionamento que tem construído com os clientes e suas respectivas associações ao longo dos últimos anos.
Diário - O Brasil é historicamente um País de baixa taxa interna de poupança, o que restringe a todos os mercados, inclusive o de ações. Nesse sentido, qual a importância que a Bolsa atribui ao esforço que está sendo travado, sob a liderança da Abrapp, para fazer crescer outra vez a poupança previdenciária?
Andrade - O instrumento da poupança previdenciária é altamente importante para a construção e financiamento de projetos de longo prazo. O Brasil é um país com diversas oportunidades e projetos ainda a serem realizados e que têm natureza de retornos com horizontes mais longos, como os projetos de infraestrutura, uma unanimidade, sejam eles na área de transporte, energia, portos, logística, e inclusive na área de tecnologia. Neste sentido, a poupança previdenciária passa a ter mais espaço quando se desenvolve em um ambiente de crescimento de renda, se acompanhado de processo de educação financeira contínuo.