A rentabilidade obtida pelas carteiras de investimentos das Entidades Fechadas de Previdência Complementar no mês de abril mostra que o desempenho da gestão de recursos do sistema mantém um resultado positivo no acumulado do ano e dos últimos doze meses. Ainda que o desempenho do mês tenha sido influenciado pela queda no retorno proporcionado pelos títulos públicos, segue uma clara tendência de recuperação. A constatação está refletida no Consolidado Estatístico do mês de abril, elaborado pelo Núcleo Técnico da Abrapp.
Em abril, a baixa inflação e mesmo a deflação (IPCA com variação de 0,25% e IGPM com deflação de 1,10%) afetaram os rendimentos das NTN-Bs e NTN-Cs, papéis atrelados à variação das taxas de juros e da inflação e, portanto, contribuíram para reduzir os ganhos das carteiras de renda fixa.
Além da queda no rendimento desses papéis, que compõem a maior parte das aplicações das entidades, o mercado de renda variável também não contribuiu positivamente para melhorar o retorno de abril, já que a Bolsa de Valores terminou o mês praticamente empatada. O dado mais relevante, entretanto, é a manutenção de uma tendência favorável, segundo aponta o Consolidado.
Com um retorno médio de 0,43% em abril, inferior à meta representada pela variação de 0,62% da TJP (Taxa de Juro Padrão), as EFPCs mantiveram entretanto um resultado acima dessa meta no acumulado do ano. De janeiro a abril os ganhos acumulados foram de 3,98%, frente a uma TJP que variou 3,26% no período. No acumulado dos doze meses essa situação se mantém, com o retorno das carteiras atingindo 11,30%, diante de TJP de 10,86%.
Apesar das oscilações verificadas em momentos de maior turbulência econômica e política ao longo dos últimos anos no país, um olhar de longo prazo revela que os ganhos acumulados pelos investimentos das entidades durante 15 anos foram de 592%, frente a uma meta de 447%. Essa é a métrica que realmente importa quando se avalia os resultados da poupança previdenciária.
“Os resultados dos mercados também tem sido claramente afetados por questões políticas pontuais, que acabam produzindo maior turbulência em determinados momentos, mas apesar disso as EFPCs superaram a TJP no semestre e no ano, o que reflete em parte os bons ganhos obtidos no início deste ano com as alocações em renda variável, mas espelha especialmente uma gestão de qualidade”, diz o presidente da Abrapp, Luís Ricardo Marcondes Martins.
O total de ativos administrados pelas EFPCs ficou em R$ 812 bilhões em abril, contra R$ 790 bilhões em dezembro de 2016. Em relação ao PIB, esse volume de recursos passou a representar uma fatia de 12,8%, contra 12,6% em dezembro do ano passado. Houve, porém, um pequeno recuo desse percentual em abril, na comparação com março, mês em que os ativos geridos pelas entidades representavam 12,9% do PIB.
Déficit e superávit - Os números relativos a déficit e superávit do sistema em abril, aponta o Consolidado, embora não sejam tão pronunciados em relação ao mês anterior, seguem mostrando uma tendência favorável no ano. O superávit das EFPCs em abril atingiu R$ 20,5 bilhões, contra R$ 18,2 bilhões registrados em dezembro de 2016. Ao mesmo tempo, o número de entidades superavitárias, que eram 138 no final do ano passado, cresceu para 143 em abril, enquanto o número de planos em situação de superávit também evoluiu de lá para cá, passando de 438 para 470. Na comparação com o mês de março, porém, houve uma queda no total do superávit, que havia sido de R$ 20,8 bilhões.
O volume total do déficit recuou para R$ 69,6 bilhões em abril, frente aos R$ 71,7 bilhões verificados em dezembro passado, embora tenha crescido em relação aos R$ 68,5 bilhões registrados em março. O número de EFPCs deficitárias se manteve em 80, o mesmo do final do ano passado, porém inferior às 81 entidades deficitárias de março. E o número de planos em situação de déficit passou para 208 contra 205 em dezembro de 2016.
Cautela em relação ao risco - Ainda que pesem os problemas macroeconômicos e políticos do País, diz Luis Ricardo, segue a perspectiva de redução contínua dos juros e as EFPCs precisarão pensar em voltar a diversificar suas aplicações a longo prazo. O que significará necessariamente uma reavaliação da questão do apetite ao risco em seus investimentos. “No quadro atual, porém, devido às oscilações muito fortes nos mercados, a principal disposição dos gestores é de cautela, sem fazer movimentos mais expressivos em direção a qualquer classe de ativos”.
Quando forem contabilizados os números de maio, com o agravamento das turbulências produzidas pelo ambiente político a partir daquele mês, a volatilidade deverá mostrar impactos ainda mais expressivos sobre os resultados. “Apesar da necessidade de obter melhores retornos, a principal preocupação das EFPCs continua sendo a de privilegiar a liquidez no longo prazo para cumprir seu dever de pagar benefícios aos assistidos”, ressalta Martins. ( Martha E. Corazza )