Os países europeus enfrentam um tsunami demográfico: um descasamento crescente entre baixas taxas de natalidade e uma longevidade maior. Poucos países estão preparados para isso, registra o The New York Times.
A população de aposentados da Europa, que já é a maior do mundo, continua crescendo. Para cada 100 trabalhadores europeus, há 42 com 65 anos ou mais que não estão trabalhando, número que deve subir para 65 até 2060, segundo a agência de estatísticas da União Europeia, a Eurostat. É bem mais que nos Estados Unidos, por exemplo, onde há 24 pessoas com 65 anos ou mais que não trabalham para cada 100 trabalhadores, segundo a Agência de Estatísticas do Trabalho dos EUA, que não tem uma estimativa para 2060.
Apesar de o problema vir se desenhando há tempos, ele vem ganhando urgência à medida que a dívida preocupante dos países europeus, fruto da crise de 2008, pressiona seus governos a reavaliar suas prioridades. A Grécia, o país em pior situação, teve que reduzir os benefícios de seu sistema de previdência várias vezes. Mas a Grécia não é o único país da região sendo forçado a reconhecer que prometeu aposentadorias que não pode pagar.
“Os governos da Europa Ocidental estão perto de quebrar por causa da bomba-relógio da previdência”, diz Roy Stockell, líder da área de gestão de recursos da Ernst & Young.
O aperto demográfico pode ser amenizado pelo influxo de mais de um milhão de imigrantes nos últimos 12 meses. Se muitos deles acabarem um dia se juntando à população economicamente ativa, o resultado pode ser um aumento na receita com impostos que manterá vivo o modelo previdenciário. Mas, antes que os imigrantes tenham sequer o direito de trabalhar, eles precisam de casa, comida e assistência médica. Assim, a chegada deles também afetará as finanças públicas.
A pressão sobre a previdência não segue o padrão familiar da crise da zona do euro, que opõe o mais próspero norte da Europa ao endividado sul. Alguns dos países às voltas com os maiores desafios demográficos, como Áustria e Eslovênia, estão entre os maiores críticos da Grécia na crise de dívida do bloco.
A Alemanha, por sua vez, “defende regras fiscais na Espanha e outros países, mas estamos relaxando as regras de aposentadoria” em casa, diz Christoph Müller, acadêmico alemão que presta consultoria à UE sobre estatísticas previdenciárias. Ele citou uma mudança recente que permite a alguns trabalhadores receber benefícios dois anos antes, aos 63 anos. Um porta-voz do Ministério do Trabalho da Alemanha disse se tratar de uma medida muito limitada.
Os planos de previdência dos governos da Europa são repletos de disposições especiais. Na Alemanha, servidores públicos não fazem contribuições previdenciárias. Nos Reino Unido, os pensionistas recebem um valor extra no inverno para arcar com despesas com calefação. Na França, os trabalhadores manuais ou que trabalham em turnos noturnos, como padeiros, podem começar a receber os benefícios antes dos demais.
A UE tem pressionado governos europeus a ser mais transparentes sobre os custos de seus sistemas de previdência. Eles são obrigados a publicar previsões dos pagamentos a cada ano.
A partir de 2017, as regras da UE vão exigir que os governos do bloco calculem o valor total que terão de pagar aos atuais e futuros pensionistas. Tornar essa obrigação mais visível pode forçá-los a lidar com a questão, diz Hans Hoogervorst, presidente do Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade e ex-ministro da Fazenda da Holanda. “Elas vão deixar claro que a situação atual é insustentável.”