Um expressivo público de 260 pessoas participou do primeiro dia do 7º Seminário “O Desafio da Gestão de Investimentos na Previdência Complementar Fechada”, nesta terça, 6 de novembro, em São Paulo. Organizado pela Abrapp, com apoio institucional do Sindapp, o evento é considerado a primeira oportunidade para discutir as perspectivas para a economia brasileira no contexto pós-eleitoral.
O Diretor Presidente da Abrapp, Luís Ricardo Marcondes Martins, realizou a abertura do evento, com apresentação sobre os avanços na regulação e projetos defendidos pela Abrapp, em especial, o Fundo Setorial voltado aos familiares de participantes e a perspectiva de aprovação do CNPJ por Plano na próxima reunião do Conselho Nacional de Previdência Complementar.
Luís Ricardo convidou ainda as associadas da Abrapp para a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) que será realizada nesta quinta, 8 de novembro (clique aqui). Em seguida, José Luiz Taborda Rauen, Coordenador da Comissão Mista de Autorregulação, realizou a entrega do Selo de Governança de Investimentos, para a Previ e para a Ecos, que participaram do projeto-piloto, através do sistema informatizado desenvolvido pela Abrapp (leia mais nas próximas edições).
Cenário Pós-Eleitoral - “Vivemos um momento de transformação, com muita expectativa sobre as mudanças que serão promovidas pelo novo governo”, disse Marcus Moreira de Almeida (ao centro na foto), Diretor de Investimentos da Previ e Secretário Executivo da Comissão Técnica de Investimentos da Abrapp, no início do 1º painel.
Em geral, os palestrantes apresentaram o desafio das reformas para o avanço do ajuste fiscal do setor público que será enfrentado pelo governo do presidente eleito Jair Bolsonaro. “O novo governo terá de fazer a lição de casa, cujo ponto principal é o ajuste fiscal. A retomada mais consistente do crescimento vai depender da aprovação de reformas, não apenas da previdência, mas da regra de reajuste do salário mínimo e da reforma administrativa do serviço público”, disse Tatiana Guerra (à dir. na foto), Economista-Chefe BNP Paribas.
Além da meta fiscal, os outros aspectos do tripé macroeconômico, o câmbio e a meta de inflação, continuam bastante favoráveis. Então, o desafio central é a melhora das contas públicas. “O Banco Central tem reduzido as metas de inflação, com a manutenção da Selic em patamar baixo. A materialização desse cenário de forma sustentável depende do ajuste fiscal e da melhora do ambiente de negócios”, comentou Thiago Neves Pereira, Economista da Bradesco Asset Management.
Volatilidade global – Para projetar os cenários para a economia doméstica, os gestores e economistas apresentaram, durante o seminário, os desafios do mercado global, cuja volatilidade tende a aumentar no futuro próximo. A economia dos EUA passou por forte crescimento nos últimos nove anos em um dos períodos mais longos de resultados positivos da história. “A principal questão da atualidade é saber quando terminará o ciclo de crescimento da economia dos EUA. Ainda não vemos perspectivas de término deste ciclo, mas os riscos de recessão devem aumentar nos próximos dois anos”, disse Gabriela Santos (à esq. na foto), Estrategista de Mercado Global do J. P. Morgan.
“É provável que o próximo governo terá de enfrentar, em algum momento, um cenário de crise global, que será puxada pela provável recessão da economia americana”, comentou Artur Duarte Nehmi, Sócio e Gestor de Renda Fixa na Sparta Fundos. “Assim como observamos no final dos anos 90, as árvores não crescem até o céu”, disse Jean François Crousillat, Diretor da Franklin Templeton, para ilustrar a previsão de término do ciclo de crescimento da economia dos EUA. Ele abordou o processo de alta de juros pelo Federal Reserve e a tendência de enxugamento da liquidez nos principais mercados globais.
Como opção de investimentos nos mercados internacionais, o gestor da Franklin Templeton vem recomendando para os investidores a alocação em fundos alternativos, também conhecidos como hedge funds. São investimentos que podem trazer retornos diferenciados em comparação com as classes de ativos mais tradicionais, porque aproveitam a subida das taxas de juros dos títulos públicos americanos ou europeus.
Classes de ativos – Com a manutenção das taxas de juros domésticas em patamares reduzidos, os gestores apontaram alternativas para as entidades fechadas do mercado nacional. Apesar da alta valorização da Bolsa doméstica em 2018, os gestores projetam que o mercado acionário brasileiro mantém perspectivas favoráveis de crescimento.
“As empresas estão entregando resultados mais consistentes, com uma projeção de crescimento de lucros positiva. A Bolsa doméstica ainda apresenta perspectiva de maior valorização”, contou Luís Guedes Ferreira, Superintendente de Renda Variável da Bradesco Asset Management. Se confirmada a agenda de reformas pelo novo governo, a perspectiva de valorização e de crescimento da lucratividade das empresas listadas na Bolsa doméstica tende a superar as projeções com maior otimismo.
“Apesar da estagnação do PIB doméstico, as empresas que fizeram a lição de casa nos últimos anos apresentam forte potencial de aumento da lucratividade”, afirmou André Ribeiro, Sócio Sênior e Gestor da Brasil Capital. Em sua apresentação, o especialista mostrou indicadores do início da recuperação da lucratividade das empresas, que será impulsionada pela manutenção de taxas de juros reduzidas e a consequente queda nas despesas financeiras. Além disso, as empresas estão iniciando processo de recuperação de receitas.
Os investimentos no exterior são outra opção apontada como alternativa para diversificação das carteiras das entidades fechadas. Em sua apresentação, Fernando Lovisotto, Sócio e Chefe de Investimentos Líquidos da Vinci Partners, ponderou as situações de carteiras de planos de benefícios nas quais os investimentos internacionais fazem mais sentido. “Nos planos com maior exposição de renda fixa marcada a mercado, faz mais sentido aumentar a alocação no exterior. Já nos planos com renda fixa marcada na curva, o espaço é menor”, disse. Para planos mais maduros, o espaço para investimentos no exterior é menor. Ao contrário, para planos mais jovens, a alocação internacional faz mais sentido. O gestor da Vinci Partners recomendou ainda a utilização de fundos exclusivos para realizar a alocação em fundos no exterior.
Em sua apresentação, o Estrategista Senior da Vanguard, Chris Tidmore, apresentou os prós e contras da gestão ativa e passiva. O especialista apresentou evidências das desvantagens da gestão ativa em termos de custos elevados e dificuldades de manutenção de performances positivas ao longo do tempo. Falou ainda sobre a possiblidade de construção de um portfólio com gestão ativa, porém com utilização de fundos indexados. E ainda apresentou a proposta de combinação entre as estratégias ativa e passiva pelas entidades fechadas.
Alternativos – Não faltaram as recomendações para investimentos estruturados tais como ativos florestais e fundos de participações. Cleidson Rangel, Diretor de Investimentos da Hancock abordou as vantagens de se investir em fundos de florestas, tais como os retornos diferenciados a longo prazo e a baixa correlação com outras classes de ativos. O gestor explicou que os fundos de ativos florestais têm comportamento semelhante ao da renda fixa, com proteção contra a inflação e, além disso, são investimentos sustentáveis.
Para o Diretor Executivo da StepStone, Filipe Cerqueira Caldas, a perspectiva de manutenção das taxas de juros em patamares reduzidos deve incentivar a alocação no mercado de crédito privado. Ele explicou que esse mercado é formado por fundos de private equity, imobiliários, infraestrutura e papeis de crédito privado. Recomendou ainda a alocação em fundos de capital permanente, que investem em ativos de empresas, com prazo indeterminado de término.
O seminário conta com patrocínio master da Bradesco Asset Management e Vanguard; patrocínio plus da Aditus, Binswanger, BNP Paribas, BNY Mellon, Brasil Capital, Franklin Templeton, Hancock, J. P. Morgan Asset Management, StepStone, Tag Investimentos, Vinci Partners e Way Investimentos; e patrocínio basic da Integral Investimentos, Private Equity Bay e SulAmérica Investimentos; e apoio do Banco Pan. O evento continua com o segundo dia de apresentações e debates nesta quarta, 7 de novembro.